CAPA
Contra-Capa
Fundo da Caixa do CD
Bolacha do CD
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Marcus Cremonese nasceu em Juiz de Fora.
É filho de uma guidovalense, Ruth do Chico do Padre, que casou-se com Nilso Cremonese, exímio tocador de
bandolim.
Marcus passou todas as suas férias da infância e juventude em
Guidoval, donde seu carinho especial por essa terra.
Tomou chá de canela de cachorro quando criança e depois de crescido nunca
mais parou de andar.
No Brasil viveu em Minas, Rio e no Piauí, onde vagou
por todo o Nordeste, a trabalho.
Atrás de uma mudança maior saiu do Brasil
em 1983 e, entre idas e vindas, vive na Austrália já há uns 16 anos.
Trabalha como designer gráfico na Universidade de New South Wales, em
Sydney, fazendo ilustração científica.
É casado com Beth, de Rio Novo, e
tem dois filhos, Leonardo e Camila, que vivem também na Austrália.
Entre os dois países já andou por outros 26. Mas continua sonhando regularmente com
um tal de Sapé, lá para as bandas da Serra da Onça, nalgum ponto perdido
das Geraes.
Todo o Projeto Gráfico e Artístico deste CD é do meu amigo Marcus Cremonese.
O Marcus Cremonese é um pouco culpado pelo surgimento do CD.
É o seguinte. Dois pontos.
Em 21/12/1.998 recebi, dele, um e-mail com o seguinte trecho:
" (...) fui a Melbourne participar de uma conferência internacional
cujo tema era "Digital Imaging, Today e Tomorrow". (...)
Na folga achei uma loja de disco daquelas enormes, que tem tudo, de toda parte do mundo
que você procurar. Fui na seção do Brasil e além de alguma bobagem
comercial de sempre, há os Tom, Milton Nascimento, Toninho Horta, Gismonti.
Entretanto - Segure-se! - entrei por uma seção de projetos
especiais do mundo todo e lá encontrei uma série produzida pela Biblioteca do
Congresso americano, chamada "Endangered Music" (ou música em risco de
extinção, como algumas espécies de animais...) e ali achei
(e comprei na mesma hora!) um CD de música brasileira gravada em 1940,
adivinha aonde? Em Minas Gerais e no Ceará! São cantigas populares, cantigas
de levar morto na rede prá enterrar, serenatas de Diamantina, além de côco,
maracatu etc...
O interessante é que não são gravações de
artistas profissionais, mas de pessoas locais (tipo sô Nilo e sô
Nilso - lá de GUIDOVAL) cantando e tocando instrumentos rústicos, baratos,
como a gente ainda vê - muito pouco, hoje - pelo interior.
Grande trabalho. Obrigado Biblioteca do Congresso! (...)"
Paralelamente, o meu amigo, o Artista Plástico,
LUIZ CHAVES , vivia me incentivando a apresentar um Projeto à Secretaria
de Cultura da Prefeitura para gravar um CD com as minhas músicas.
Assim, inspirado no e-mail do Marcus Cremonese e na insistência do Luiz Chaves
elaborei e enviei, em maio/1.999, um Projeto a Prefeitura de Belo Horizonte que o aprovou.
Estes dois amigos são principais responsáveis pela existência deste CD.
São cúmplices nesta empreitada.
Há que se descontar a participação, apoio, compreensão e paciência da minha esposa e parceira
Maria de Lourdes.
Por que escolhi o Marcus Cremonese para fazer o Projeto Gráfico do CD?
Em dezembro/2.000 recebi um lindo Cartão de Natal feito e enviado pelo Marcus.
Aí me veio a idéia: "Quem sabe o Marquim não faz o ENCARTE do CD?"
Mandei-lhe um e-mail pedindo e sondando a possibilidade do fazer o trabalho gráfico do CD.
Disse-lhe, entretanto, que não teria como lhe remunerar pelo seu trabalho artístico.
O Marquim, doido que é, respondeu-me que faria o serviço. O Preço?
Uma RAPADURA e UMA GARRAFA DE PINGA.
Topei na hora. Preço bom. De graça.
Fui ao Correios e pedi informação à moça (agente) para saber
se podia mandar PINGA e RAPADURA à Austrália.
Ela pesquisou e depois me disse que eu podia mandar a cachaça (só uma garrafa ou litro).
Também não colocou obstáculo ou impedimento sobre o envio da rapadura.
Mais tarde, vim a saber pelo Marquim que produtos agrícolas eram proibidos de entrar na Austrália.
Controle para evitar doenças e pragas oriundos de outros países.
Talvez ou com certeza, a moça não pesquisou direito. Acreditei nela.
Busquei na estante uma pinga lá de Araçuaí, a "DAMA DE OUROS" .
Fui num depósito aqui no bairro, onde moro, Santa Efigênia onde se vende produtos da roça.
Comprei a rapadura. Para completar o volume vi uma farinha de milho; pensei:
"num deve ter isto na terra do canguru".
Peguei uma embalagem. Falei pro dono do estabelecimento o destino dos
produtos e pedi-lhe um pacote de pé-de-moleque.
Ele me desaconselhou. Vi os danados, eram daqueles de amendoim moído.
O bom é dos caroços inteiros. Isto é eu que acho. Ele, então, me recomendou em subsitituição
umas paçoquinhas. Aceitei a sugestão.
Fiz o embrulho. Ajeitei as mercadorias, envolvi-as em jornais.
A moça havia me orientado em proteger bem a embalagem. Ficou bem socado o pacote.
Achei-o seguro, aparentemente seguro.
Anexei, um desenho com a ilustração do Luiz Chaves. Um mapa de Minas Gerais tendo na
parte inferior - MONTANHAS - e na parte de cima um CÉU ESTRELADO.
Tá, hoje, fazendo parte do fundo do CD.
Pus num canudo de papelão, desses que armazenam papel para reprografia.
Fui, novamente, até a agência e despachei "os negócio" às 11:20h.
Almocei, angu, carne moída, feijão, couve rasgada e arroz.
Por volta de de uma hora da tarde, toca o telefone. A Lourdes, minha mulher,
atende e me passa a ligação.
Era dos correios. A gerente me informava que a minha encomenda estava vazando.
Vou lá conferir. O embrulho todo molhado.
Abro-o. A garrafa de pinga tá quebrada. Um cheirinho bom, fugindo no ar.
Acho que o pessoal deve ter jogado o pacote, de uma altura razoável, para testar a
segurança da embalagem. Creio, numa baita sacanagem do pessoal lá do correio.
Disseram que eu não tinha embalado direito. Supunho é que fizeram um teste.
Num sei prá quê teste. Isto eles não assumiram. Quebraram a garrafa de pinga,
de inveja, maldade ou incompetência. Dos três, esta última é o defeito mais grave.
Num tem remédio. Os outros ainda dão para remediar.
Aí a moça que me atendeu disse iria me ajudar a fazer a nova embalagem. Uma lengalenga,
querendo me engabelar. Pensou que eu iria desistir. Voltei até a minha casa.
É menos de duas quadras da Agência dos Correios. Peguei outra pinga. A "CARUMBÉ",
de São Gonçalo do Rio de Pedras, SERRO.
A curiosidade, agora me leva ao dicionário e vejo que carumbé,
vem do Tupi, é o macho do jabuti.
No quarto de despejo encontrei um pedaço de isopor e o fiz em vários pedacinhos. A minha mulher,
sempre mais prática que o eu, comprou um plástico com bolinhas, próprio para embalar e
proteger objetos fragéis.
Volto ao correio. Não querem mais despachar a pinga.
Vou à Agência Central para despachar "os trem".
Renegam a enviar a pinga. Vou a outra agência. Nada. Dizem que é proibido mandar
pinga para a Austrália.
Procuro uma QUARTA AGÊNCIA dos CORREIOS.
Uma funcionária eficiente busca um Manual e o consulta.
Lá está que se pode mandar PINGA para a Austrália.
Mando os produtos da nossa Gerais. De gorjeta uma livro de Guimarães Rosa: "Primeiras Estórias".
Depois de tantas peripécias chegam à casa do Marquim Cremonese.
e-mail que recebi do Marcus Cremonese em 07/02/2.001
Saí do trabalho lá pelas seis. A Beth trabalhou comigo lá hoje desde as 11
da manhã. Pensamos... vamos pra casa fazer um rango? É, é bão...
E fomos andando prum ponto de ônibus (a Camila pegara o carro emprestado pra sair à
noite).
E uma idazinha de ônibus pra casa, aqui na Australia, não mata
ninguém: ônibus limpo, sempre no horário, viajam poucas pessoas em pé mesmo
na hora do rush, geralmente se vai sentado; paga-se ao motorista na entrada
(não tem trocador muito menos roleta).
Mas no caminho do ponto do ônibus,
aquele cheirinho caracteristico no ar... vamos comer neste tailandês? É um
restaurante em que a gente vai de vez em quando e a comida é divina (e
incrivelmente barata!).
Viajo na cozinha tailandesa por que tudo tem que
ser fresco. Por preceito religioso, eles nunca poem comida na geladeira.
Fui à Tailandia umas duas vezes e quando você sobrevoa o país é uma horta
só.
Se não se pode por a verdura na geladeira tem-se por castigo que
comê-la fresca. Toda verdura é portanto colhida no dia. E o jeito de
cozinhá-la é melhor ainda. É tudo "al dente", nada é cozido demais, como
gostam nossas pretas velhas das Geraes.
Comemos um refogado de pedacinhos
de bife com vagem, abobrinha (zucchini), cenoura, ervilha, brócolis e muito
gengibre raladinho fino, mais uma cebola fina e cebolinha, que ninguém é de
ferro. Isso por cima de um arroz branquinho. E num canto do arroz, uma
conchada de um molho de amendoim com leite de coco e mais alguma coisa que
não dá pra decifrar mas é bão de arrebentar.
Resolvemos então andar por uns cinco quilômetros até um outro bairro, Bindi
Junction, e de lá pegar o onibus pra casa. Pra fazer o quilo, como diria o
Sô Nilso.
E ao chegar em casa, lá estava uma caixa deixada pelo carteiro. Num
"carditei" quando vi escritos em portugues por fora. Pois acredite, meu
senhor, chegou uma rapadura, uma porrada de paçoca e um livro, além,
evidentemente do desenho do Luiz Chaves, que faço questão de me apoderar, e
ficará emoldurado no meu estúdio quando acabar essa zorra de capa.
O que teria eu a dizer? O que a famigerada globalização tem a ver com isso?
Veja só: comemos tailandês, a rapadura tava ali, olhando pra nossa cara...
e o queijo Minas pra comer com ela? Pra tudo se dá um jeito nesse mundo
globalizado.
Beth abriu a geladeira e de lá saíram uns queijinhos italianos,
bocconcini, que é a coisa mais próxima do queijo de Minas que se pode achar
aqui pelas estranjas.
Essa então foi a sobremesa: rapadura com
bocconcini!!! Divino!!! E depois paçoca, que ninguém é de ferro!
Não sei como dizer muito obrigado. Há bem uns doze anos não comia paçoca.
Rapadura ainda como nas minhas andanças pelas Geraes, quando coincide a
minha ida com a safra. Beth já me tomou o Guimarães Rosa e manda mil beijos
agradecidos.
E a cachaça?
Tá falando o rei do otimismo. Nunca duas encomendas despachadas no mesmo
dia chegam aqui na mesma entrega. Uma sempre fica pra trás. Pois é isso que
TEM de estar acontecendo! Vamos esperar.
A PINGA chegou uma semana depois.
Foi devidamente saboreada, aos goles, pelo bom mineiro que o Marquinho é.
Assim, através de trocas de e-mail, Textos e Fotos voando pela INTERNET,
prá lá e prá cá, foi sendo montado o ENCARTE do CD.
Eu achei uma obra prima. Muitos já me disseram isso.
Obrigado Marquim da Beth do Dr. Alyrio de Rio Novo.
Obrigado Marcus do Sô Nilso Cremonese.
Obrigado Cremonese da D. Rute da Jovita do Chico do Padre.
Obrigado Marcus Cremonese - do mundo todo!
Ildefonso "DÉ"Vieira - 19/10/2.001
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