Matéria paga por Ildefonso, flamenguista de coração, atleticano por evolução.
Noite de 12 de junho de 2003, Flamengo e Cruzeiro disputam a final da Copa Brasil, título
já conquistado pelo MENGO em 1.990.
Aliás ganhar títulos parece ser a sina do Flamengo: 5 Campeonatos Brasileiros,
1 Mundial Interclubes, 1 Taça Libertadores da América, 1 Copa Mercosul, 1 Copa dos Campeões,
1 Torneio Rio-São Paulo, 27 campeonatos cariocas.
Pois é, jogavam Flamengo e Cruzeiro. Meu sobrinho, Marcílio Vieira, vestiu a camisa preta-e-vermelha, postou-se frente à TV e preparou-se para assistir ao jogo sozinho.
O pai, Professor Marcílio, corrigia provas de história, em outra sala. Sabia que o Flamengo não andava bem das pernas. Mal começa o jogo, com menos de 1 minuto, Deivid marca o primeiro gol do Cruzeiro. Falha coletiva de toda a defesa do Flamengo. O Marcílio, de 6 anos, resmunga como um ancião de 90 anos. Aos 16 minutos, 1º tempo, Aristzábal faz o segundo gol.
Mais uma vez a zaga do Flamengo bate-cabeça. Marcilinho, irritado, tira a camisa do Flamengo
e a joga ao chão. A tia Sueli, que passava no momento, vê a cena, conversa com o menino.
Explica que esporte é assim mesmo. às vezes se ganha, às vezes se perde.
A vida é assim.
Ressabiado, Marcilinho veste o manto preto-e-vermelho.
No segundo tempo, aos 18 minutos, Fernando Baiano marca um golzinho para o Flamengo,
o suficiente para que a chama rubro-negra acendesse no garoto e ele acreditasse no
milagre da virada. Flamenguista é assim, acredita em milagres.
Que nada, fogo-de-palha, 10 minutos depois Luizão do Cruzeiro faz 3 a 1. Placar definitivo.
Cruzeiro campeão.
Desconsolado, Marcilinho vai pra cama dormir. O pai nem fica sabendo do resultado.
Aos poucos, espocam foguetes nos céus da cidade.
Em minutos forma-se uma carreata e um foguetório ensurdecedor.
São os cruzeirenses comemorando mais um título. Marcílio, o filho,
insone e chateado com a derrota do MENGO, levanta, abre a janela e grita:
“Bosta! Merda de cidade! Não se pode nem mais dormir.
A polícia devia por essa gente na cadeia”.
Desabafo feito, fecha a janela, vai dormir o sono dos anjos.
(“Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer...”)
Escrito em homenagem aos flamenguistas Severino Occhi, Vianelo Silva, Adão Nogueira, Anito Siqueira, Família Matos, Marcellus Cattete Reis Dornelas, e aos saudosos: Natalino Dornelas, Raymundo Francisco (Tilúcio) e D. Nilza Ribeiro que me ensinou a gostar do FLAMENGO.